quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

A Maquinação dos Jovens




Miguel Levy
Mais um período de carnaval se passou e tive o prazer de poder falar com alguns jovens em retiros diferentes.  Sempre considero um privilégio ainda ser chamado para falar com jovens que de alguma forma consideram importante o que podemos trazer a eles no sentido de esclarecer algumas dúvidas.

O difícil e até certo ponto doloroso e constatar que se tratando de jovens cristãos, atuantes em nossas igrejas, não percebemos um avanço no estado de consciência cristã de nossos jovens. Me refiro a jovens para não deixar mais comprometida a nossa situação como líderes e pastores.

Já perdi a conta de quantos encontros de jovens planejados para com temas inspiradores onde há na programação uma sala de debates, um bate-bola, uma berlinda, uma mesa redonda para dar a oportunidade dos participantes perguntarem um grupo de lideres ou pastores de confiança as mais variadas perguntas que afligem a mente sedenta da juventude em questão. Ao ser convidado para fazer parte do grupo que será sabatinado tenho vivido duas sensações. A primeira é a costumeira tensão sobre a possibilidade de ficar acuado diante de uma bomba que pode surgir em meio as perguntas. A segunda é o alívio no final ao perceber que nos saímos sem nem precisar abrir a caixa de ferramentas. Ultimamente, surgiu a terceira sensação. O desconforto em perceber que nós, líderes e pastores não estamos fazendo o dever de casa com nossos jovens no sentido de leva-los a viver a liberdade proposta pelo evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo.

Podemos preparar o começo da maioria das perguntas em casa e levar impresso sem medo de perder o papel. É PECADO...? ...pircing e tatuagem, ouvir música secular, ficar, ir para balada, tomar umas, namorar com “descrente”. Pode isso? Pode aquilo? Ou o que é pior: Já pode isto...?

O que me incomoda não é o fato de responder as mesmas perguntas mil vezes, nossa função é esta. O que é preocupante é que a maioria esmagadora das perguntas dos jovens sempre é de caráter comportamental, mostrando claramente que a preocupação dos nossos jovens consiste em buscar um padrão de comportamento que garanta a sua aceitação diante da igreja e de Deus. Vemos com isso que ainda estamos longe do que representa o evangelho para o homem. Novidade de vida, nova criação, natureza recriada, salvação.

Ainda estamos ensinando que é através de um personagem que agradamos a Deus, levando as pessoas a buscarem uma lista que possa licencia-los a viver seguindo regras sem qualquer compromisso com a razão cristã, consciência do Deus que é em nós ou entendimento da graça salvadora. Pela falta de tempo a ser dedicado no evangelismo, sim entenda evangelismo como o chamado para moldar o homem ao evangelho, discipulado com comunhão e acompanhamento próximo dos nossos filhos na fé, continuamos exigindo fidelidade cega e irracional a listas de pode e não pode, manuais de conduta comportamental que são atualizados periodicamente, inserindo e retirando coisas conforme a necessidade do momento. Daí a constante dúvida do jovem sobre as atualizações desta lista. Já liberaram a televisão mas incluíram a internet? Não pode ir ao cinema, mas assistir o mesmo filme em casa, pode?

Estamos criando jovens muito eficazes em representar seu papel dentro das comunidades evangélicas que vivemos mas pouco eficientes em cumprir a missão da igreja no mundo.

Talvez por comodismo, estamos promovendo uma mecanização do evangelho reduzindo o sentido da vida cristã a um mero cumprimento de regras, que não levam as pessoas a buscar sua missão como cristãos no mundo, procurando afetar as pessoas com a vida abundante recebida de Jesus.

Estamos levando as pessoas a se ocuparem com elas mesmas na constante checagem de suas listas comportamentais. Nossos jovens tem se isolado da sua responsabilidade em comunicar Cristo, o evangelho, as boas novas aos seus próximos. Me surpreendo ao ver tanta coisa acontecendo ao nosso redor, tantos temas onde a igreja poderia intervir de forma a chamar a atenção do mundo para Deus.

Creio que estamos como um operário que trabalha em uma imensa fábrica, limitando-se apenas a realizar sua focalizada tarefa, mas muitas vezes sem nem ter ideia do que está sendo construído como produto final. Um barco, um carro ou um avião? O que importa? Se somos eficazes em nossa rotina é o que basta.

Não podemos fugir da responsabilidade que está sobre nós, em formar uma igreja de pessoas reais transformadas por Deus para afetar a terra. Conscientes da natureza que temos, convictos da salvação em Cristo e focados na nossa missão como igreja. Apresentar um projeto de redenção para o mundo de hoje a fim de poder sua garantia em Deus na eternidade. Nossa missão é expressar em nosso tempo uma realidade que se consumará na eternidade. Não podemos fazer isto sem uma visão ampla do plano de Deus para o homem. Não podemos fazer isto focados em padrões comportamentais que não refletem transformação de natureza.

Ainda espero chegar em debates de jovens onde as perguntas não serão mais sobre o que posso ou não posso fazer para ser identificado no cenário gospel evangélico, mas como podemos afetar o mundo como jovens cristãos.

Que Deus me dê muitos anos de vida.


Um comentário:

Lameck Galvão disse...

Pastor Levy,

Já estamos chegando ao terceiro ano da CEVC - Comunidade Evang. Viver em Cristo. E o problema dos jovens continuarem com as mesmas dúvidas do que pode ou não, é simplesmente a não conversão. Muitos se convenceram que a igreja é o melhor lugar para estar,pelo simples fato de que o ritual o agrada. Deus me falou quando o questionei sobre o procedimento de alguns jovens que ainda continuam os mesmos. Ele me disse: "Continue fazendo sua parte" entendi que deveria continuar pregando. Imediantamente me lembrei de Jesus alimentando 5 mil homens fora mulheres e crianças e ao seu lado havia somente 12 para ajudá-lo, mas foi com os 12 que ELE fez a diferença.
Acredito que se cada pastor tivesse a visão de com os dízimos dos dízimos ajudar uma outra denominação, para o crescimento do reino de Deus a obra seria outra. Infelizmente de um lado tem os jovens com suas dúvidas do que pode ou não pode, e do outro os pastores que abrem igrejas e filiais como se fosse comércio.